Esse blog é fruto é de uma Oficina que ministrei em Tatuí, de abril a novembro de 2011,por meio da Oficina Grande Otelo, espaço da Secretaria de Estado da Cultura.Oficina esta que foi realizada numa das salas do Museu Paulo Setúbal.SueliAduan









segunda-feira, 30 de julho de 2012

O último estágio



Ele iria estagiar numa grande multinacional. Com o futuro garantido e o enlace adiado, os noivos se despediram na plataforma da estação. Ele acenou, na escada do trem, e na cabine se sentou ao lado de uma linda jovem. Ela, após a partida, triste ao chegar em casa, recebe uma outra notícia trágica. Soube que sua melhor amiga havia desaparecido.



                                                                                 Ary Roberto

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A batalha



Já era sabido que o inimigo se instalara. E foi tão de repente. Nem sequer foi possível assimilar o acontecido. Durante tantos anos tudo foi tão calmo, tão tranqüilo, tão prazeroso, que era difícil acreditar que tempos de sofrimento e dor pudessem acontecer a ele e a tantas criaturas de boa índole. Mas estava disposto a lutar até a última gota de sangue. Por ele, e por todos os seus. Foi com esse pensamento que vestiu o uniforme, carregou as armas e partiu para a batalha. Mal acabara de deixar a aldeia e foi interceptado por uma nave. O comandante, um senhor pra lá de meia idade, lhe disse para embarcar porque  ele não participaria daquele confronto. Perguntou qual era o motivo e a reposta veio imediata:- Não discuta com ordens do superior. Você fez por merecer. Ainda arriscou mais uma pergunta: - Para onde vocês vão me levar?                                                                  – Direto ao paraíso.


                                                                                                              Ary Roberto

quinta-feira, 31 de maio de 2012

O buquê




A fina garoa que caía naquele final de tarde, só se prestava para umedecer, além das almas daquela multidão, os tenros botões de rosa do buquê, que segurava, firmemente, em seus braços. Sinônimo de um milhão, e mais um pouco, de desculpas. Nem mesmo a friagem que sentiu, quando seus pés pisaram na poça d’água, conseguiu gelar seu coração, mas a fez refletir.
Até quando suportar mais mentiras, mais enganos, mais botões de rosa apagando traições. Movimento inconsciente, seus braços se estenderam para que um taxi parasse. Mais um final de dia, mais uma volta solitária para casa e mais um novo recomeçar. Seu coração estava quase cedendo, quando os olhos verdes do motorista perguntaram para onde iria. Alguns infinitos segundos se passaram até que a resposta viesse:
- Para a tua cama.


                                                                                    Ary Roberto


terça-feira, 22 de maio de 2012

O boto


Crente em sua fé inabalável, o povo acreditou que na beira do igarapé, o boto se fez homem e engravidou a pobre donzela.  Além da lua, eu fui a única testemunha.  Mas eu juro, foi a donzela quem me seduziu.

                                         
                              Ary Roberto

domingo, 20 de maio de 2012

O sepultamento


Eu não tinha mais dúvidas de que tudo estava consumado.  Quando me olhei no espelho me dei conta da triste realidade. Meu rosto transfigurado, a expressão de quem acabara de sair de um velório insistia em permanecer.

Perdida na solidão de um lavabo, abri a bolsa na procura de algo para maquiar a minha tristeza. Quando encontrei um batom, esbarrei meus dedos naquela maldita certidão. Como pode uma simples folha de papel acabar com tantos anos de convivência e felicidade. Senti a garganta sendo apertada por um forte nó, meus olhos estavam prestes a se encherem de lágrimas. Respirei profundamente e me contive. Uma sensação de ódio e vingança invadiu meus pensamentos. Aquela sirigaita não perde por esperar.

                                                                                                      Ary Roberto

sábado, 19 de maio de 2012

O fio da navalha



Não que a vida daquele casal fosse um inferno. O fato é que não viviam bem. Mas aquele dia, da galinha ao molho pardo, foi a gota d’água. Flagrou a mulher degolando a ave com sua navalha de estimação. Ainda se fosse degolar algo mais interessante, mas galinha ao molho pardo.  Ele nunca havia comido e jamais comeria. O bate-boca começou cedo. Por pouco não se pegaram nos tapas. Desorientado, pegou a navalha e saiu atrás de um afiador.  Voltou mais irado ainda, porque o infeliz não havia dado o fio como ele queria. Abriu as portas e começou a fazer o que tinha de ser feito. Já estava na quarta navalhada quando um moleque entrou gritando:
- Pare, seu Alcides. É a sua mulher,....é a sua mulher que pediu pro senhor fechar a barbearia e ir almoçar. Ela mandou avisar que fritou dois ovos pro senhor.

                                                                                                          Ary Roberto


Nota de falecimento


Em seu quartinho da pensão, recebeu um telegrama. Dizia que a tia, velha, solteirona e rica, havia falecido.  Quase morreu de alegria.


                                                                 Ary Roberto